abril 14, 2014

Por que Erdoğan é hostil às escolas turcas?

Mümtazer Türköne

Essa é uma guerra pessoal do Primeiro-Ministro Recep Tayyip Erdoğan. Quando o Presidente Abdullah Gül declarou seu apoio às escolas turcas [ligadas ao Movimento Hizmet] – que são dirigidas por empresários turcos inspirados pelas ideias do respeitado erudito islâmico turco Fethullah Gülen – ficou claro que Erdoğan está sozinho nessa batalha.

Na verdade, nenhum outro integrante do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) se mostra contra as escolas. Acusações apressadas feitas pelo ministro das Relações Exteriores, Ahmet Davutoğlu, não foram suficientes para tornar a guerra pessoal de Erdoğan em conflito geral.

O Movimento Hizmet é muito bem-sucedido no campo da educação. Apesar de sua participação de mercado no setor educacional não ser colossal, seus serviços têm qualidade impressionante. As novas elites turcas frequentaram tais escolas. As escolas turcas são admiradas em muitos países e aumentam o prestígio da Turquia. A ira de Erdoğan contra as elas é, portanto, resultado de maquinações políticas.

Eu tive a oportunidade de visitar algumas escolas turcas na Ásia Central, África e Europa e pude tirar minhas conclusões sobre elas. Estive nas escolas sobre as quais o Primeiro-Ministro Erdoğan fez críticas ao Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev. Além disso, por ter visitado algumas escolas abertas pelo governo turco no exterior, posso fazer comparações.

O Movimento Hizmet é um movimento social que redefine religiosidade “voltada ao diálogo” como “paz”. As escolas são as ferramentas básicas para essa visão de paz em escala global. Apesar de as escolas operarem em vários países, não há um único incidente que indique problemas com as autoridades locais. Ao contrário, os serviços prestados por elas são recebidos com grande satisfação e as elites estão felizes por enviarem seus filhos a essas escolas. Os professores turcos que trabalham nessas instituições não são missionários, mas são extremante bem-sucedidos por focarem em seu trabalho com proficiência e êxtase religioso.

As escolas turcas representam uma expressão da energia social na Turquia. Suas funções não estão restritas à exportação unilateral de educação da Turquia. As escolas se abrem a diversas culturas e, com esta interação próxima, contribuem para o pluralismo na Turquia. Após trabalharem nessas instituições por um tempo, os professores voltam à Turquia e trazem consigo o que viram e aprenderam em outros países. Casamentos com estrangeiros se realizaram graças a essas interações. Até mesmo o alto número de crianças bilíngues nascidas desses casamentos são um bom sinal de um futuro multicultural.

Os padrões do Movimento Hizmet são utilizados nas escolas turcas. Esses padrões são construídos com base nas premissas fundamentais da tradição sufista turca, como altruísmo, amor e humildade. Eles rejeitam a violência e interpretações radicais. O Movimento Hizmet, sistematicamente, rejeita a ideia de usar o Islã como ideologia política ou para competição política. Por isso, as escolas turcas constituem o maior e mais poderoso oponente às tendências de radicalismo islâmico ao redor do mundo. Essa competição é traduzida de maneira mais leniente na política interna turca. O desentendimento entre o Movimento Hizmet e o AKP brota dessa discrepância. O Movimento se opõe à politização do Islã nas mãos do AKP.

Hoje, fica claro que Erdoğan sempre viu o Movimento Hizmet como rival e sempre fez planos para destruí-lo, minando as atividades deste no setor de educação. Os esforços para fechar as escolas preparatórias e oferecer educação religiosa por meio de escolas imam-hatip – escolas secundárias com currículo religioso adicionado ao currículo regular – são resultado desse plano. Ainda nesse contexto, Erdoğan tenta competir com o Movimento abrindo Centros Culturais Yunus Emre no exterior.

O desejo de Erdoğan de manter seu poder de maneira totalitária é a maior razão para a guerra travada contra as escolas turcas.

Publicado em Today’s Zaman, 7 de abril de 2014.
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