Entrevista da jornalista brasileira Fabiola Ortiz dos Santos com Alp Aslandogan, presidente da Alliance for Shared Values
Todos os elementos de um período pré-genocida estão reunidos na Turquia nos dias atuais, afirmou à Lusa um dos porta-vozes do movimento Hizmet (serviço), do clérigo Fethullah Gülen, opositor do Presidente turco Recep Tayyip Erdogan.
Alp Aslandogan, um dos porta-vozes de Gülen - fundador do Hizmet, movimento humanista de orientação islâmica autoexilado desde 1999 no estado norte-americano da Pensilvânia - citou o medo de realizar atividades coletivas, o controlo dos media e uso do poder do governo para intimidar a população.
"Hoje as liberdades civis estão totalmente ameaçadas. De forma repentina, o governo foi no sentido contrário dos padrões democráticos. As pessoas já não podem nada coletivamente, há vigilância e intimidação. Se alguém for visto com um diário da oposição nas mãos, pode ser atacado e espancado", disse.
Fethullah Gülen, septuagenário, defende o diálogo inter-religioso, a liberdade de imprensa, de expressão e valores universais, mas é acusado pelo governo de Erdogan de administrar um Estado paralelo e de conspiração política.
Ex-aliado de Erdogan o clérigo tornou-se o seu principal rival. O presidente turco acusa Gülen de agir como "um Estado dentro do Estado" e tentar desestabilizar o governo do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) através dos seus simpatizantes no poder judicial, na polícia e outras instituições.
Para Aslandogan, tudo mudou a partir da terceira eleição de Erdogan como primeiro-ministro em 2011. Em agosto de 2014 foi eleito como Presidente da Turquia.
"Da democracia para o autoritarismo crescente, Erdogan começou a promover a ideia de uma presidência executiva que lhe garantiria imensos poderes e sem prestação de contas. Gülen não apoiou mais", reforçou.
Interrogado sobre como Fethullah Gülen descreveria a atual administração do presidente turco, o assessor e porta-voz, diz que estaria a meio de caminho entre o autoritarismo e uma ditadura aberta.
"A politização do islamismo é sempre perigosa. O uso da religião para propósitos políticos será sempre prejudicial. A religião serve para os indivíduos se tornarem virtuosos e, juntos em sociedade, expressarem os seus valores e virtudes para se viver numa sociedade mais livre, justa e democrática", defendeu Aslandogan.
O uso do islamismo como uma ideologia política para criar um regime e capturar o poder "é o que distingue fundamentalmente o pensamento do atual presidente turco dos pensamentos de Gulen", diz o porta-voz.
Para Aslandogan, tudo dependerá do "grau de maturidade" da sociedade turca e o quanto tolerará atitudes autoritárias do governo.
"Estamos dececionados, esperávamos uma maior reação pública de oposição a esta situação. Chegará um ponto em que não haverá mais silêncio" conclui.
Publicado na Agência Lusa em Dezembro 1, 2015