Senador e professor brasileiro Cristovam Buarque |
Buarque discursou em um painel em Istambul e visitou as universidades Fatih, Zirve e Süleyman Şah, instituições estabelecidas por empreendedores inspirados pelo erudito islâmico turco Fethullah Gülen. De acordo com Buarque, no Brasil, as pessoas investem na educação apenas para ganhar dinheiro. Contudo, ele afirma que ficou impressionado com o exemplo turco: “fundações são criadas graças ao dinheiro de empresários que não esperam lucro em retorno”. Buarque acredita que tais instituições educacionais só foram possíveis “graças às ideias de Fethullah Gülen, propostas quarenta anos atrás”. Ele mencionou a ênfase de Gülen na importância da educação e na ideia de que a Turquia precisa de mais escolas do que mesquitas. “Empresários que ouviram essas ideias tornaram-nas realidades”, afirmou o senador, que dedicou sua vida à educação antes de se aposentar como reitor da Universidade de Brasília, no Brasil. Para Buarque, o sucesso do Movimento Hizmet é ainda mais surpreendente fora da Turquia. “Isso não é provável no Brasil. Talvez nós sejamos mais materialistas do que idealistas” comentou ele, afirmando que o Movimento Hizmet poderia ser um bom modelo para o Brasil, caso uma mudança de mentalidade acontecesse no futuro.
Qual é a motivação desses empreendedores turcos? Segundo Buarque, os turcos têm uma forte mentalidade nacionalista, “mais forte do que a de muitas outras nações”. Ele acredita que o nacionalismo vem da revolução de Atatürk e que a religiosidade do povo turco ajuda no seu compromisso com o movimento.
“Eu não preciso de dois salários”
Buarque é um idealista que se recusa a receber o salário como senador por acreditar que sua aposentadoria como reitor é suficiente, além disso, ele é um defensor ardoroso da educação. Na opinião dele, “A transformação que precisamos não é possível sem educação”.
De que tipo de transformação Buarque está falando? Ele sonha com a redução do consumo e em ser “feliz com pouco”. De acordo com ele, o propósito do progresso sempre foi o consumo e a produção em vez da felicidade. “Você não precisa consumir mais para ser mais feliz ou melhor”, afirma Buarque. Ele argumenta que não propõe uma espécie de socialismo, mas uma democracia social, apesar de não ter cunhado um nome para tal sistema. “Acredito que é muito melhor ter transporte público do que carro”, afirma. No entanto, suas esperanças estão nas gerações futuras, já que a geração dele está acostumada ao consumo.
“Deve haver um limite máximo não na renda, mas no consumo”, propõe Buarque. Apesar de ele não prever uma mudança no futuro próximo, ele vê esperança nos comentários de líderes como o Papa e o Presidente Obama, o primeiro usou o conceito de “decrescimento”, enquanto o último propôs alterações na legislação sobre assuntos ecológicos. Ele acredita que a criação de uma “desigualdade tolerável” é possível.
Sugerindo uma “distribuição mais balanceada do consumo entre ricos e pobres”, Buarque acredita que isso só é possível com uma mudança de mentalidade por meio da educação. Contudo, ele afirma que de 50 milhões de alunos no Brasil, apenas 10 milhões têm acesso a boas escolas, um problema que não é específico de seu país, mas que ocorre no mundo todo.
A presidente do Brasil não interrompeu as investigações de corrupção
Buarque, que concorreu à presidência e ficou em quarto lugar nas eleições de 2006, deixou o Partido dos Trabalhadores (PT) porque o partido tornou-se tradicionalista após falhar em produzir reformas e não conseguiu evitar a corrupção.
Ele elogia a Presidente Dilma Rousseff por não interromper as investigações de corrupção em seu próprio partido, apesar de ter poder para tal. Ele enfatiza que “o governo respeitou o estado de direito”. Contudo, Buarque critica o governo por este não ter conseguido melhorar o sistema educacional nem a economia no Brasil.
Entrevista da jornalista Sevgi Akarçeşme no dia do seminário do Senador Cristovam Buarque em Taksim, Istanbl, no dia 8 de outubro de 2015, publicado em inglês no jornal Today’s Zaman no dia 17 de outubro de 2015