Aydoğan Vatandaş
Após as atrocidades cometidas pelo “Estado Islâmico” (EI), anteriormente conhecido como Estado Islâmico no Iraque e Síria (al-Dawla al-Islamiya fi al-Iraq wa al-Sham), Don Lemon, famoso âncora da CNN, organizou uma discussão semana passada sobre a questão “O Islã é mais violento do que qualquer outra religião?”
Tawfik Hamid, autor de “Inside Jihad: Understanding and Confronting Radical Islam” (Dentro da Jihad: Entendendo e Confrontando o Islã Radical), disse que, diferentemente de outras religiões, o Islã ainda não foi “reformado” e confirmou que “hoje, o Islã é mais violento”. Também foi decepcionante ver o ex-Diretor Assistente do FBI Tom Fuentes concordar com o argumento ao dizer “Sim, deve ser, de que outra forma todos esses grupos poderiam usar o nome do Islã para justificar violência e fazer o fazem?”. Fontes reiterou ainda que o EI chama a si mesmo “Estado Islâmico” e acrescentou, “Não fomos nós que demos esse nome a eles”.
Apenas Arsalan Iftikhar, diretor da revista Islamic Monthly Magazine, se opôs aos argumentos apresentados pelos dois oradores, dizendo que não é a religião que leva as pessoas à violência, mas as ideias e ideologias extremas desses grupos, ideias que também podem ser encontradas em outros grupos religiosos e citou o exemplo de casos e grupos extremistas cristãos que explodem clínicas de aborto nos EUA.
A maneira com que as questões foram feitas durante o programa e a forma com que elas foram debatidas levantam a questão sobre como a mídia cobre o Islã. Após a emergência das atrocidades do EI, o Presidente Barack Obama declarou que o Estado Islâmico não representa o Islã. Obama disse: “O EI não fala por nenhuma religião. Grande parte das vítimas são muçulmanos e nenhuma religião ensina às pessoas a massacrarem inocentes. Nenhum Deus justo apoiaria o que eles fizeram ontem ou o que eles fazem todos os dias”.
Hoje, não apenas muçulmanos, mas também muitos não-muçulmanos acreditam que a mídia de massa americana tem cometido grandes erros na cobertura do Islã. As guerras árabe-israelenses, a Revolução Iraniana e sua crise de reféns, o 11 de Setembro, tudo isso pode ser considerado fator chave para a predisposição da mídia e a cobertura de apenas um lado do Islã. Contudo, a rivalidade política, de longa data, entre impérios islâmicos e não-muçulmanos desde a era medieval tendem a causar perspectivas orientalistas que, repetidamente, reproduzem retratos negativos do Islã na mídia ocidental. Uma pesquisa Gallup de 2011 relatou que a cobertura de terroristas muçulmano-americanos na mídia cria maior preconceito e sentimentos anti-islâmicos na sociedade americana.
O relatório do Observatório de Religiões e Secularismo de 2012, conduzido na Bélgica, apontou que o Islã continua a ser discutido de forma específica e limitada na mídia belga. Muitos muçulmanos americanos tendem a acreditar que a mídia ocidental cobre o Islã de forma sistematicamente negativa. Apesar de haver vários aspectos positivos do Islã que poderiam ser cobertos, a mídia ocidental recebe muitas críticas quando os publica. Milhares de escolas, caridades, hospitais e esforços inter-religiosos de muçulmanos, em todo o mundo, para promover pluralismo não recebem atenção justa ou suficiente da mídia.
Quando o Erudito Islâmico Turco Fethullah Gülen, por exemplo, condenou duramente a campanha de violência do EI e enviou condolências às famílias das vítimas, incluindo a do jornalista assassinado, nenhuma organização de notícia americana considerou o assunto relevante. O Professor Muhammad Shafiq – diretor executivo do Centro Brian and Jean Hickey de Estudos e Diálogo Inter-religioso e professor Estudos Islâmicos e Religiosos na Universidade Nazareth – afirmou que o Movimento Hizmet, que foi inspirado pelo erudito muçulmano Gülen, segue a metodologia profética de compartilhar a luz do Islã: “Acredito que o trabalho do Movimento Hizmet funciona de forma contínua e permanente. Ele não ajuda apenas em alguns momentos, quando há um desastre, por exemplo, mas tenta criar humanos realmente compassivos. Quando você tiver criado humanos compassivos em diferentes partes do mundo, eles se levantarão e construirão um novo mundo, um mundo construído em amor e compaixão tornando-o mais belo. O Alcorão sempre nos pede para trazermos ‘husna’, beleza, para a Terra. É para isso que serve o Islã.”
Quando o Imã Mohamed Magid, presidente da Sociedade Islâmica da América do Norte (ISNA), a maior organização islâmica da América do Norte, condenou o Estado Islâmico, sua mensagem não alcançou a mídia de massa. “As ações do EI contra minorias religiosas no Iraque violam os ensinamentos alcorânicos ‘Que não haja compulsão na religião’ (2:256). A ações deles devem ser condenadas e não representam, de forma alguma, o que o Islã, na verdade, ensina”, declarou.
Iyad Madani, presidente da Organização para Cooperação Islâmica (OIC), afirmou que o grupo militante chamado “Estado Islâmico” prejudica o Islã. “Nenhum dos atos ou princípios [do Estado Islâmico] seguem os ensinamentos de tolerância do Islã”. Mais uma vez, essas declarações encontraram pouco espaço na mídia. É muito triste ver que, hoje, a mídia ocidental não evita usar palavras como “muçulmano” ou “islâmico” como adjetivos para descrever terroristas do Oriente Médio.
Se a mídia americana deseja aprender mais sobre o Islã, então deveria dar mais espaço aos eruditos islâmicos e profissionais muçulmanos como doutores, professores e cientistas. Deveria aprender a distinguir entre Islã e terrorismo. Terroristas, independentemente se são muçulmanos, cristãos ou judeus, são aqueles que politizam a religião para sua própria vantagem e ideologia.
A mídia deveria criar uma linha de distinção entre Islã e terrorismo, no entanto, muçulmanos também deveriam melhorar suas estratégias de aproximação a pessoas que simplesmente não estão convencidas sobre o Islã e rejeitam que o Islã seja uma religião pacífica, cujo objetivo é trazer “husna” para a Terra.
Publicado em Today’s Zaman, 8 de setembro de 2014.