Margaret A. Johnson, Ph.D.
Se olharmos a definição sociológica de movimento social, em seu sentido mais amplo, ela se refere à ação coletiva de um grupo de pessoas reunidas por um desejo ou interesse em comum de impactar mudança social ou produzir mudanças primárias em uma sociedade.
Quando consideramos várias definições sociológicas de movimentos sociais, descobrimos que elas, normalmente, rotulam movimentos sociais como confrontadores – com ações coletivas contra arranjos políticos, culturais e/ou sociais dominantes numa sociedade, buscando mudar uma lei, política social ou liderança – ou seja, ações coletivas realizadas pelos menos favorecidos, na sociedade, que através do trabalho em conjunto buscam desafiar a ordem existente. Ao olharmos o Movimento Hizmet, percebemos que ele não se enquadra, exatamente, nas ideias sociológicas típicas de movimentos sociais. De um lado, podemos dizer que o Movimento Hizmet busca mudança social, dado que é uma organização cujo objetivo principal é a paz mundial. Assim, eles tentam substituir a noção de “confronto de civilizações” pela ideia de “coexistência pacífica”. No entanto, este objetivo abstrato é muito diferente de movimentos sociais que, por exemplo, lutam por mais controle de armas de fogo, reforma educacional ou aqueles que buscam uma mudança de regime político.
De certa forma, podemos dizer que o Movimento Hizmet é confrontador quando rejeita a figura dominante, neste mundo conflituoso, de que não podemos conviver, de que divisões profundas em religião, tribalismo ou interesses de Estado não podem ser superadas. Assim, o Movimento pede mudança, mas que de que tipo? Ele não está buscando um objetivo político ou a mudança de uma política social específica. Certamente, membros votam e podem, até, se aliar a políticos e orientações políticas que reflitam seus valores, mas isto é muito diferente de um movimento social com um objetivo político específico e ativo. Isto ocorre, simplesmente, porque, em sociedades democráticas livres, a maioria dos eleitores tendem a votar em políticos cujas opiniões e valores estão mais alinhados com os seus próprios. Ainda assim, fica evidente que membros do Movimento evitam confrontos. Por exemplo, Fethullah Gülen expressou preocupação sobre a “Flotilha da Liberdade de Gaza”, em maio de 2010, dizendo que “os canais diplomáticos deveriam ter sido exauridos” (fgulen.org). Além disso, o Movimento Hizmet está ativo em mais 130 países. Se este fosse um movimento confrontador, isto não seria possível.
Na verdade, conforme escrevi em outro trabalho, o Movimento Hizmet funciona dentro do status quo de cada país e adapta sua abordagem às necessidades específicas daquele país, enquanto mantém seus valores principais. Quando visitei o Hizmet na Nigéria, um membro foi me buscar no aeroporto, num local distante da capital, Abuja. Era quase 1h30 da manhã e nós dirigíamos pela estrada que levava à cidade quando fomos parados por um carro da polícia que bloqueava a estrada. O policial estava lá porque sabia que um voo internacional havia chegado e que, provavelmente, os únicos viajando por aquela estrada seriam aqueles chegando do exterior. Por que ele estava lá? Bem, considerando suas palavras – conforme ele perguntava repetidamente ao irmão hizmet, no assento do motorista, “O que você tem para mim?” – ele, claramente, queria dinheiro e estava solicitando propina para nos deixar passar sem incômodos. Todas as vezes, o irmão hizmet respondia, simplesmente, “Minhas preces.” Depois de alguns minutos deste vai e vem de palavras, tivemos permissão para prosseguir. Quando perguntei ao irmão se, alguma vez, ele havia pagado propina, ele disse “Não, nunca; Eu vivo na Nigéria por três anos e nunca paguei propina.” Considerando-se que a corrupção é tão comum naquele país, eu achei impressionante que um estrangeiro fosse capaz de suprir, não apenas, todas as suas necessidades e de sua família, mas também de seu trabalho com as escolas e empresas sem nunca ter pagado nada para facilitar o caminho.
O Movimento Hizmet tenta mudar o coração das pessoas através de uma vida sincera com um coração puro e uma vida de serviço aos outros. Eles buscam mudanças não através da demanda de uma nova lei ou um novo chefe de estado, mas ao penetrar os corações e mentes de indivíduos por sua forma de viver e servir aos outros com dedicação pura e sincera. Esta é uma abordagem de transformação das raízes, de baixo para cima, contudo, não da forma como, tipicamente, vemos movimentos sociais.
Assim, o Movimento Hizmet é um movimento social? Sim e não. Sim, é um grupo de indivíduos engajados em ações coletivas que buscam desafiar a visão materialista dominante no mundo, mas, não, no sentido em que não se encaixa, facilmente, na estrutura típica de um movimento social. Podemos dizer que o Movimento Hizmet é um movimento social não-confrontador que funciona dentro da lei, cultura e estrutura social de cada país em que opera, buscando transformar o mundo em direção à paz mundial ao transformar os corações das pessoas através do esforço dos membros do Movimento em aperfeiçoar seu próprio caráter para que possam servir de maneira mais dedicada e sincera.
Gostaria de aprender mais sobre o tópico de movimentos sociais? Veja o livro em que o autor e parlamentar turco, Muhammed Çetin, discute a natureza deste movimento social, em 371 páginas, em The Gulen Movement: Civic Service Without Borders.
Publicado em fethullah-gulen.org, 14 de fevereiro de 2013.
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